foto: Paulo de Tarso
Essa louca vontade de sempre estar escrevendo sobre musica e afins começou justamente com um textinho sobre o Pearl Jam. Pra mim foi fácil escrever sobre algo que conhecia e gostava tanto. E agora, mais de um ano depois, escrevendo artigos sobre uma penca de coisas ligadas à música, me vejo travado, perdido à procura de palavras para descrever o show do ultimo dia 30/11, e simplesmente não acho.
Falar que foi o momento ápice da minha vida, que a quarta-feira ultima [justamente o dia da semana que nasci] vai ser infinitamente descrita aos meus amigos, que em diversas vezes, durante o show, algo mais forte que sufocou meu peito, minha garganta e arrancou lágrimas de meus olhos. É pouco.
10:30 da manhã já estava na frente do local do show, nós [eu, Adelana e Dani] deveríamos ser o nº 280 da fila. Sempre enxerguei essa loucura de fans que vão pela manhã à espera do show de muito longe, não recriminava e nem aprovava. Me vi vivendo aquilo com um sorriso de orelha a orelha. As quase 12 horas na fila não significaram nada na frente de mais de 12 anos esperando algo, que sempre pensei que era impossível acontecer. Se bem que mesmo estando na fila do show, ingresso na mão, ter estado frente a frente e ter trocado duas palavrinhas com o McCready na noite anterior, mesmo assim não acreditava que eu iria ouvir o Pearl Jam tocar. Esse sentimento não foi embora nem mesmo quando os caras subiram ao palco e soltaram os primeiros acordes. A música que abriu o show [Corduroy] definiu logo no primeiro verso o sentimento de milhares de pessoas ali presentes:
“A espera me deixou louco, você finalmente está aqui e eu estou confuso”.
“Confuso” e emocionado.
Foto: Paulo de Tarso
Depois do esmagamento de “Corduroy”, veio o chute na barriga com “Do The Evolution” e continuou o massacre com “Animal” e “Save You”. Ali, naquele momento, a ficha começou a cair e percebi que pela primeira vez na minha vida estava assistindo um show em que qualquer música [dos oito álbuns] tocada, poderia ser classificada como “música da minha vida”. Depois de “Given to Fly” e “Dissident” veio um “oi” de Eddie Vedder seguido da clássica “Even Flow”. O show ainda estava na sétima música e eu, há tempos me sentia flutuar. Do nada filminhos com frases emocionadas que presenciei na fila, na frente do palco ou nas comunidades virtuais do Orkut povoavam a minha cabeça. Aquele realmente era um momento sublime para muitos. O sorriso no rosto de todos ao redor entregava tudo, alguns outros caíram em lágrimas logo na entrada, sentimentos facilmente entendidos para os que amam.
Depois de uma grande seqüência com o espírito bem rock n´roll, “Betterman” veio para colocar panos frios na turma e anunciar uma das músicas mais esperadas da noite:
“BLACK”. Como me senti? Bom, foi meio estranho, enquanto os caras tocaram pensei comigo mesmo:
“Puta que pariu, eu estou no show do Pearl Jam e eles estão ali tocando”, isso mesmo caros amigos, a ficha caía, mas a máquina engolia e eu tinha que procurar outra a cada momento.
Foto: Paulo de Tarso
Com a passagem do tsunami com letra triste que foi “Black”, mais duas músicas do primeiro cd [Ten] fechou a primeira parte do show. No bis, Vedder apareceu sozinho no palco e cantou com mais de 20 mil presentes na Pedreira a pop “Last Kiss”. Só voz e violão. Depois desse momento “zen-popular”, muito rock n´roll com a cover “I Believe in Miracles” dos Ramones e com a clássica “Jeremy”. Nessa ultima, a Pedreira veio abaixo. Depois de mais duas canções mais uma parada. Nesse momento eu já estava sem forças, o corpo aclamava por um descanso, a garganta seca aclamava por água, mas eu sabia que ainda tinha um bis e não arredei o pé. Eles voltam com “Whipping” e “Go” na seqüencia. Um verdadeiro teste para cardíacos, parecia que o Pearl Jam estava fazendo tudo aquilo de propósito. Parecia que eles realmente queriam que o show fosse memorável.
Depois de quase 2 horas e 24 músicas tocadas, veio “Alive”. Êxtase total. Eddie Vedder corria de um lado a outro feito um louco, parava nas pontas do palco e ficava a admirar o mar de gente. Quando todos pensavam que não havia lugar para surpresas e emoções, Vedder surpreende a todos e trás ao palco um fan que foi ao show de cadeira de rodas e dedica a linda “Yellow LedBetter”.
Fim do show.
Que palavras usar para classificar esse momento da minha vida? Não sei. Sinceramente não sei. Ver os caras que há mais de 13 anos embalam os meus melhores momentos ali, bem pertinho tocando, é divino. Se isso tudo vai me levar a algum lugar? Se vou ganhar algo com tudo i$$o? Se já sou um pouco velho para agir dessa maneira? Não sei. Muitos devem fazer essas perguntas de uma maneira “pequena”, mas uma coisa eu garanto, passei a ver as coisas e agir de uma maneira mais humana depois que comecei a entender as letras das músicas.
Estou emocionado...ainda.
Foto: Paulo de Tarso
Ps: Recado ao senhor Eddie Vedder, você disse em um péssimo português que voltaria ao Brasil quando nós, os fans, quiséssemos, então Vedder, can be tomorrow?
Escrito por Tarso em 3/12/2005